domingo, 4 de outubro de 2009

ACORDO OMITE NOMES DE PADRES ACUSADOS DE ABUSOS

padreirlandesA comissão de investigação formada na Irlanda para esclarecer os abusos físicos e sexuais contra milhares de crianças desfavorecidas divulgou seus trabalhos esta semana, mas o resultado está recebendo muitas críticas porque não publica os nomes dos mais de 400 religiosos e religiosas e uma centena de seculares acusados pelas vítimas. Para justificar a atitude, os responsáveis explicaram que concordaram em não divulgar a identidade dos acusados - muitos deles já mortos, outros doentes - em troca de que as ordens religiosas envolvidas aceitassem colaborar na investigação.

Segundo relatório, o escândalo saiu barato em termos materiais para a igreja católica, pois contribuiu com apenas 10% dos mais de € 1,2 bilhão pagos pela República da Irlanda a 12.500 dos atingidos, graças ao generoso e suspeito pacto assinado em 2002 com o governo de Dublim sobre a base ilusória de que bastariam € 300 milhões para indenizar todos os homens e mulheres vítimas daqueles abusos quando ainda eram crianças.

Quem ficou com a reputação manchada para sempre foi a famosa congregação dos Irmãos Cristãos, os Christian Brothers, que abriu sua primeira escola na Irlanda em 1802 e que ainda administra duas centenas de escolas em todo o mundo.

Os Irmãos Cristãos estavam à frente da escola industrial de Artane (Dublim), provável cenário dos abusos em maior escala durante várias décadas. Ali esteve Mick Waters, dos 10 aos 15 anos. Waters se viu trancado sem motivo justificado e teve de emigrar para refazer sua vida, tal como fizeram muitas outras das 25 mil crianças que teriam sido vítimas da pedofilia e da violência de irmãos e sacerdotes católicos.

Waters, que se dedica a ajudar pessoas que sofreram abusos sexuais na infância e a investigar esses casos, acredita que hoje, na Irlanda, está acontecendo o mesmo que nos anos 1950, só que agora as vítimas do abuso sexual por parte dos religiosos são os filhos de imigrantes.

No seu depoimento, Waters disse que foi internado com dez anos na escola industrial da congregação dos Irmãos Cristãos em Artane. Ele contou que o poder das ordens religiosas era tão grande que o governo não se atrevia a intervir. Se alguém morresse em um instituto não eram obrigados a informar à polícia para que investigasse.

A vítima prossegue em seu relato: “Aqueles enormes dormitórios com 250 meninos tinham um quarto de castigo e se ouviam os gritos dos meninos chorando de horror e dor. Os gritos se espalhavam por todo o dormitório e eram outra forma de nos meter medo. E abusavam sexualmente dos meninos, os degradavam sexualmente na frente de outras crianças. De mim também abusaram sexualmente. Sim, eu era uma pessoa forte, ainda sou. E as pessoas com caráter sempre eram levadas ao quarto de castigo, e ali dois ou três irmãos faziam o que quisessem com você, para satisfazer seus costumes mais sujos. Quando você é uma criança não compreende os abusos sexuais. Não sabe o que é sexo. Mas no fundo do coração sabia que era algo ruim. Há coisas que você não compreende, mas sabe que são terríveis.”